segunda-feira, 13 de julho de 2020

Tinder para iniciantes





Faz dois meses que estou sozinha, desde que terminei com meu último namorado (namoro esse de 2,5 anos). Estamos em 2020, um ano de merda. Em 2020 estamos condenados ao engordo, ao alcoolismo, a depressão... Condenados a ficar só quem já está só, ao divórcio quem tem um cônjuge, ao término de relação quem tem um namorado, e assim vamos arrastando-nos nesse ano de desgraça e corona.
Nunca achei que eu fosse esse tipo de mulher que não consegue ficar sozinha, que precisa de um namorado de qualquer jeito, mas agora vejo que sou essa mesma, aquele tipo de mulher de quem todos falam mal. Inteligência mediana, beleza mediana, gosto mediano. Passei dos 40 faz um ano, mas ao invés de ficar menos exigente, fiquei mais. Entrei no Tinder cinco semanas após romper meu namoro.
Estava na casa de um casal de amigos em Munique quando lá pelas tantas chega mais um casal de amigos deles, e mais um... Se eu fosse uma pessoa mais segura, eu não teria me importado de estar lá segurando velas, mas a coisa é que não estava segurando velas, até porque casais se odeiam, e ali nada tinha para segurar, a não ser a barra de aturar a chatice deles. Vendo aquela gente acompanhada de seus pares, frustrados, engalfinhando-se uns aos outros com indiretas... Cheguei a ficar feliz por estar só, por ir deitar sozinha, por poder peidar na cama depois de toda aquela misturada de cerveja, carne e verduras... Por não ter um parceiro que me jogasse “verdades” ou indiretas na cara, ou vice versa.

Fui pra cama. Peidei como queria sem pudores. Chorei também, pois a ebriedade me deixa emotiva e cagalhona. Fiz um cadastro no Tinder, mas estava em Munique. Não entendi porque todos os caras que apareciam eram dessa região. Eu moro em outra cidade, pensei. Como disse mais acima, sou de uma inteligência mediana. Entendi o esquema do app muito depois. Começo a selecionar gente, na verdade, excluir, é X aqui e é X lá, pra todo lado. Nope Nope Nope Nope. Misericórdia, como existe gente feia nesse mundo. Sinto-me em um mercado de horrores. Mas não estou comprando linguiças, e sim, homens. O Tinder me vendeu um serviço, estou dessa vez com um App que não me oferece músicas ou filmes... Mercado de gente feia. Quer? Não, não não não... Credo, como sou chata. 

Faço um Match com um carinha. Pelas dúvidas escrevemos e marcamos um Skype. No dia seguinte ainda é festa na casa dos amigos, estou com minha cerveja do lado. O cara por sua vez, toma um Nescau. A voz dele não me agrada de todo, mas pelo menos é bonito e alto. Ele vai me buscar no domingo para me levar até à estação de trem. Temos 50 minutos de sobra para um café. Engraçado é que enquanto ele dirigia, reparei na unha do dedão dele, estava bem cortada, mas o dedo era meio pontiagudo e grande, a pele da mão bastante ressecada. Detalhes tão pequenos de nós dois... Ele fala arrastado, baixo demais, sua voz definitivamente não me agrada. Ele toma o bendito café, deixando a espuma no bigode, sem limpar. O pó de chocolate do Cappuccino em cima dos dentes, sem limpar nada. Parece um menino, mas fala o tempo todo sobre investir dinheiro na bolsa. Bocejos. Tô cagando para aqueles papos dele, morrendo de vontade de ir embora logo dali. Não vejo a hora de poder ir para a estação. Ele me acompanha, não leva minha mala. Mostro minha impaciência em partir. Deixo claro que ele não agradou. Acho que ele também não foi muito com a minha cara. Adeus e nunca mais. Deuzzzzzowlivre!

1,5 hora de viagem, Nopes nopes nopes continuam até que: Novo Match!

Tinder para que te quiero. A saga continua, cabras!